Estou relendo “O óbvio ululante”, de Nelson Rodrigues. Justamente sobre reler algo, o grande autor teatral escreve em uma das crônicas:

“Por tudo que sei da vida, dos homens, deve-se ler pouco e reler muito. A arte da leitura é a da releitura. Há uns poucos livros totais, uns três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos.
Certa vez, um erudito resolveu fazer ironia comigo. Per­guntou-me: “O que é que você leu?”. Respondi: “Dostoievski”. Ele queria me atirar na cara os seus quarenta mil volumes. Insistiu: “Que mais?”. E eu: “Dostoievski”. Teimou: “Só?”. Re­peti: “Dostoievski”. O sujeito, aturdido pelos seus quarenta mil volumes, não entendeu nada. Mas eis o que eu queria dizer: pode-se viver para um único livro de Dostoievski. Ou uma única peça de Shakespeare. Ou um único poema não sei de quem. O mesmo livro é um na véspera e outro no dia seguinte. Pode haver um tédio na primeira leitura. Nada, porém, mais denso, mais fascinante, mais novo, mais abismal do que a releitura.”

Comentários

Diônifer Alan disse…
Achei interessante a ideia da releitura, mas me questiono até que ponto a mente humana permite o imaginar? A releitura traz uma nova perspectiva do que já se viu? Mas não seria mais interessante conhecer ao menos alguns grandes centros do mundo para podermos concatenar em uma grande leitura sobre vários assuntos?
Um abraço, Diôni.

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