O REI DO POP FALA PELA MÚSICA

Coluna de Roger Lerina na ZH de hoje:

Musicalmente, Michael Jackson é daqueles artistas cuja trajetória não cabe em um único CD de grandes sucessos. Desde criança, cantando com seus irmãos no Jackson 5, ele se acostumou a enfileirar hits de rádio e TV – I Want You Back, ABC e I’ll Be There foram só alguns deles.

Quando saiu em carreira solo, Michael só aumentou a lista de canções famosas – quase todas reforçadas por videoclipes de impacto. Compositor – sozinho ou em parcerias – da maior parte do repertório de seus discos, ele deixou em sua obra algumas das pistas para sua vida conturbada. Confira ao lado alguns exemplos.

Don’t Stop ‘Til You Get Enough – Primeiro single do primeiro disco solo da fase “adulta” de Michael, Off the Wall (1979), a canção de ritmo frenético parece antecipar o que viria adiante na trajetória do cantor. A letra sugere excitação sexual (“Chegue mais perto do meu corpo agora / Apenas me ame até não saber mais como”), mas o refrão abarca também a ambição do artista que tornou-se Rei do Pop nos anos seguintes: “Mantenha a força, não pare / Não pare até ficar satisfeito”.

Thriller – Foi a revolução jacksoniana nos domínios da MTV. Lançado em 1983 para ilustrar a faixa-título do grande disco do ano anterior, Thriller não era um simples videoclipe, mas um curta-metragem de 13 minutos, dirigido pelo mesmo John Landis de Um Lobisomem Americano em Londres (1981). Os zumbis dançarinos e o clima de filme de terror combinam com a atmosfera sombria da letra – e a figura de Michael se transformando em lobisomem parece, agora, profética: o artista dominado pelo monstro.

Billie Jean – Outro grande hit, agora sobre um problema bastante comum para os famosos: as acusações de paternidade (“Ela diz que eu sou o cara / Mas o guri não é meu filho”, insiste o refrão). O caso de Michael foi real: uma fã um tanto maluca declarou que ele era o pai de um dos filhos dela – o detalhe é que as crianças eram gêmeas. Com uma das melhores linhas de baixo da história do pop, a canção quase ficou fora do disco Thriller – o produtor Quincy Jones não gostava muito dela.

Black or White – Michael sempre atribuiu sua gradativa despigmentação ao vitiligo, e não a uma recusa da própria negritude. O discurso é reforçado em Black or White, que fala de autoestima e igualdade (“Eu tive de dizer a eles / Que sou o melhor / E eu falei de igualdade / E isso é verdade / Esteja você errado / Ou certo / Mas se você está pensando na minha garota / Não interessa se você é negro ou branco”). O clipe mostra Michael dançando entre zulus, índios e cossacos e conta também com o então ator-mirim Macaulay Culkin.

Man in the Mirror – Artista popular no mundo todo, milionário excêntrico, sempre às voltas com a própria aparência, Michael Jackson também teve seus lampejos de generosidade. Nesta balada do disco Bad (1987), por exemplo, ele canta sobre mudar o mundo, começando pelo homem no espelho a sua frente: “Fui uma vítima de um tipo egoísta de amor / Agora percebo / Que há pessoas sem um lar, sem um níquel / Poderia ser eu, fingindo que eles não estão sozinhos?”).

Unbreakable – Michael Jackson chegou a seu último disco de inéditas, Invincible (2001), como um artista contestado, àquela altura mais lembrado por seus percalços e excentricidades fora dos palcos. Mas responde feroz em Unbreakable (“indestrutível”): “Parece que agora você sabe / Quando e como eu fico mal / E, com tudo o que passei, ainda estou por aí (...) / Porque você não vê que nunca vai me atingir / Porque eu não vou deixar, eu sou demais para você”.


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