Japão, onde nasce o Sol

Pensem nas crianças/Mudas telepáticas. Os versos de Vinícius de Moraes, na voz de Ney Matogrosso, nos vêm à mente quando acompanhamos a tragédia no Japão. Essas crianças poderiam ser nós, distantes de tudo, porém assistindo boquiabertos às imagens dos estragos provocados pelo tsunami e que são transmitidas pela TV e pela internet. Mas, na verdade, as crianças são todos os japoneses, imponentes diante de algo que ainda se anuncia.

Claro que o contexto é outro. Em vez da explosão de uma bomba, as ondas devastadoras. O que antes era uma rosa, agora é um pólen radioativo, que se espalha e contamina inclusive a comida natural tão prezada pelos japoneses.

A metáfora da rosa, mais um paradoxo do que uma comparação, lembra agora a natureza, tão imprevisível. As ondulações e a delicadeza das pétalas se transformam em ondas, antes tão suaves ao bater na costa, agora arrastando carros, casas, pessoas. Da rosa despetalada, sobram apenas os espinhos.

As rosas, no entanto, são plantadas pelo homem. O homem que manipula os elementos da natureza para criar energia fica agora sem forças diante do poder destrutivo do que ele próprio criou. Como controlar um inimigo invisível? Como segurar o caule da planta sem se ferir com seus espinhos? O átomo, a menor partícula existente, quer derrotar os guerreiros japoneses, que já perderam a batalha para as ondas gigantes.

Pensem nas feridas/ Como rosas cálidas. Essas feridas não vão se curar tão cedo, como não foram curadas as de Hiroshima e Nagasaki. Não são feridas expostas, mas sim internas. Serão as lembranças dos que presenciaram as imagens das casas sendo destruídas. Serão também as radiações que corroem por dentro e são transportadas geneticamente para outras gerações. A rosa hereditária/ Estúpida e inválida.

Mas o Japão é a “Terra do Sol Nascente”. Uma nova luz pode brilhar sobre a cor cinza das cidades arrasadas ou dissipar as nuvens negras invisíveis da radioatividade. Sejam os ensinamentos de Buda ou o culto ao kami no Xintoísmo, ou ainda os espíritos guerreiros dos samurais, não importa, todas as forças, existentes ou imaginárias, vão se aliar ao Sol e ao povo japonês, trazendo de volta a cor e o perfume de uma nação tão bela como uma rosa.


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