O chute na coruja

Na semana passada, durante uma partida de futebol na Colômbia, a bola atingiu acidentalmente uma coruja que passeava no campo. Um jogador chutou a ave caída - que por sinal era mascote do time adversário - com o intuito, segundo ele, de ajudá-la a levantar voo. A atitude causou a revolta dos torcedores e repercutiu mundialmente, com as imagens divulgadas pela internet, causando uma merecida dor de cabeça ao agressor, ainda mais depois da morte do animal.

Um simbolismo escondido no episódio, porém, me deixou inquieto, despertado, talvez, pelo olhar meio filosófico adquirido depois de ler grandes pensadores.

A coruja era o animal que acompanhava a divindade grega Athena, deusa da sabedoria, cujo nome na mitologia romana era Minerva. A ave, por ser noturna, possui uma excelente visão durante a noite, além de uma audição aguçada, deixando-a sempre atenta a qualquer movimento. Quando se alimenta, engole inteira a sua caça e depois regurgita o que não será digerido, como os ossos. Essas características a alçaram a símbolo da sabedoria e, por extensão, das disciplinas relacionadas ao conhecimento, como a Filosofia e as Letras.

Em meios às trevas da ignorância, quando muitos estão com os olhos fechados, o sábio busca, com os olhos bem abertos, a luz do conhecimento. Enquanto todos estão dormindo, ele está acordado, lendo, pesquisando, buscando soluções para os problemas da vida. Se a maioria tem visão limitada e conformista, o sábio procura olhar atentamente para todos os lados, não se contentando com as respostas prontas. E no meio das produções culturais, sabe assimilar o que há de melhor e joga no lixo o que é ruim, não engolindo tudo o que a indústria cultural nos apresenta.

O chute na coruja é um chute no conhecimento. Pouca importância se dá hoje ao saber. O mais importante é o entretenimento vazio, como o próprio futebol, além das músicas apelativas, com letras e melodias de péssima qualidade. A programação televisiva, em busca de audiência - salvo um ou outro oásis -, é um atestado que afirma nossa imbecilidade. A atitude do jogador parece dizer “não atrapalhe o espetáculo, coruja, que o povo quer apenas diversão”.

No entanto, a reação dos torcedores simboliza que há resquícios do que fomos no passado e há esperanças de que o conhecimento volte a ter importância na vida das pessoas. Há espaço em nosso dia a dia tanto para o entretenimento quanto para o conhecimento. Podemos nos divertir e esquecer um pouco o peso das preocupações cotidianas, mas sem deixar de buscar o saber. Podemos ligar a TV e assistir ao jogo, e depois abrir um livro e ler, o que também é divertido.

Comentários

Mirella disse…
Com toda certeza, esse aí não fez/faz parte do time de Sócrates...
Cassionei Petry disse…
O que será que ele faria com os quero-queros do Beira-rio?
O avestruz parece ter substituído a coruja.. infelizmente
Cassionei Petry disse…
Se bem que hoje ninguém quer se esconder, mas se expor.
Unknown disse…
Por isso que eu digo e eu sempre vou repetir: esse mundo está louco, totalmente fora de controle! Além de pedófilos, assassinos e traficantes ainda há aqueles seres humanos (se é que ainda podemos chamá-los de seres humanos) que maltratam os animais. Horrível, sim, e para piorar, muitos não são punidos. “Ah, são só animais”. Animais, não “só animais”, eles também possuem sentimentos, também sentem dor e precisam de amor. Muitos acham engraçado, “chutar a coruja”, mas não passam de pessoas estúpidas. Queria ver, se fossem chutados, para ver como é bom. E para piorar, a coruja ainda morreu. Esse jogador aí, não merece meu respeito. Desde quando uma pessoa ousa machucar um animal, não merece mais meu respeito, nunca mais, e merece punição severa. Só espero que ele seja preso, e sofra muito.

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