Quem afirma...



Quem afirma que “deus” existe está necessariamente afirmando algo que não pode ser comprovado e, consequentemente, também não pode ser convencido do contrário. Quem afirma que “deus” não existe pode ser convencido do contrário, se forem apresentadas evidências.
Quem afirma que “deus” existe não está disposto a questionar sua crença. Quem afirma que “deus” não existe pode não estar disposto a acreditar, mas aceita ser questionado.
Quem afirma que “deus” existe está preso a uma verdade. Quem afirma que “deus” não existe está preso a várias dúvidas.
Quem afirma que “deus” existe deseja de todas as formas que sua crença seja verdade. Quem afirma que “deus” não existe deseja de todas as formas encontrar uma verdade.
Quem afirma que “deus” existe se satisfaz com uma resposta. Quem afirma que “deus” não existe não se sente satisfeito com várias respostas.
Quem afirma que “deus” existe tem o direito de ter certeza. Quem afirma que “deus” não existe tem o direito de duvidar.
Quem afirma que “deus” existe não tem o direito de impor a outros essa certeza. Quem afirma que “deus” não existe não tem o direito de querer que todos tenham dúvida.
Há um limite para o nosso conhecimento. Há um espaço muito grande que está vazio. Acontece que um preenche essa lacuna com um ser que não existe, enquanto o outro preenche essa mesma lacuna com um ponto de interrogação. Logo, toda tentativa de racionalizar debates sobre essa questão cai no vazio, na medida em que ambos não têm uma resposta. Isso não significa que este tipo de discussão deva acabar, só não pode haver o ponto final com uma verdade da fé, pois ela não pode ser comprovada.
Já dizia Poincaré, “duvidar de tudo ou crer em tudo, são duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas de refletir". Logo, quem duvida deve ter uma abertura para acreditar, mas será quem acredita está disposto a duvidar?

Comentários

charlles campos disse…
Que legal! Tão superior ser ateu. O fato é que vc deve fazer uma leitura em negativo deste seu texto. Afirmar que Deus "não existe" é ter uma pretensão de certeza na mesma medida que afirmar que Ele "existe". Simples assim. O resto é potoca.
charlles campos disse…
Ah. E o tom desse seu texto tem o mesmo proselitismo pomposo que os folhetinhos de mensagens da Assembléia de Deus e das Testemunhas de Jeová que eu recebo na caixa de correios.

Essa música aliterativa piedosa e enfadonha.
charlles campos disse…
Seu texto reforça minha crença de que ateus não existem. O máximo que alguém pode arvorar ser nesse sentido é agnóstico. Há linhas involuntárias de seu post que confirmam isso. Você fala da dúvida:

"Acontece que um preenche essa lacuna com um ser que não existe, enquanto o outro preenche essa mesma lacuna com um ponto de interrogação."

"Quem afirma que “deus” existe tem o direito de ter certeza. Quem afirma que “deus” não existe tem o direito de duvidar."

Leia "Uma confissão", disponibilizado no livro "ùltimos dias de Tolstói", da Cia.
Página Virada disse…
Muito bom o texto, Cassionei,

Ateus existem. Amigos imaginários, provavelmente não.
Bertrand Russell certa vez escreveu que há um bule de chá girando em torno do Sol. O bule é pequeno demais para ser observado, mesmo por nossos melhores equipamentos, e também não há maneira de detectá-lo de modo indireto. Não há, entretanto, maneira de provar que o bule não existe. Então, o ideal seria manter uma postura agnóstica com relação ao bule?
Penso que não. Até que não seja apresentada evidência de que o bule existe, não há razão para aceitar isso. Mais: se houver alguns indicativos de que o bule de fato não existe, devemos ter, pelo menos, uma boa reserva com relação a ele.
Ser ateu é como não aceitar o bule sem que existam evidências para isso. Não significa, no entanto, viver fechado às evidências. Você ajusta suas crenças de acordo com as evidências disponíveis. Não vejo nada de arrogante nisso.

Um abraço e parabéns pelo trabalho no blog,
Guilherme
Cassionei Petry disse…
Abraço pra ti também, Charlles. Ah, desculpa, não me mandou nenhum abraço. Acho que tu sabes melhor ler texto literário do que uma simples postagem meia-boca sem pretensão nenhuma.

Abraço e obrigado, Guilherme.
charlles campos disse…
Bules, pires, xícaras...resume os arsenais sofisticados que temos para traduzir o universo.

Forte abraço, Cassionei
Anónimo disse…
Filósofos e cientistas têm tentado entender como o mundo funciona, e usam histórias assim, com xícaras, bules e pires, e outras tantas experiências de pensamento, para criar mecanismos para discutir como pensamos, e os vieses cognitivos que temos.

Por outro lado, jumentas falantes, a criação de organismos a partir do barro, a ressurreição de mortos, o compartilhamento da Terra por homens e dinossauros, e tantas outras alegorias, são tidos por muitos como explicações exatas da história do mundo.

Acho que chegamos ao ponto fundamental do que o Cassionei escreveu no post.

Abraço,
Guilherme
charlles campos disse…
Guilherme, vou de Saul Bellow, que diz que a idade mental do ser humano é de um nascituro para sabermos alguma coisa. Eu não sustento nenhuma crença, e nem tampouco nenhuma descrença. Sigo feliz assim, aceitando a possibilidade. Russell é um dos mais dogmáticos pensadores do século XX, por isso está tão ultrapassado. A ciência tem apenas 300 anos.

Vai que você é carente também de abraços, um forte abraço para você também.
Anónimo disse…
Um abraço a você também, Charlles, e um viva ao pensamento pós-moderno.

Guilherme
Cassionei Petry disse…
Não é questão de carência de abraço, mas mandá-lo é uma senha, como se dissesse: apesar das ideias contrárias, não devemos ficar chateados uns com outros. Mesmo com comentários agressivos.
charlles campos disse…
A generalização e a empáfia mal disfarçada de seu texto também soam agressivas, e você não mandou um abraço para suavizar as coisas no final.
Matheus disse…
Talvez interessará a vocês:

http://www.adhominem.com.br/2013/11/fides-et-caritas-o-limite-da-exigencia.html
Cassionei Petry disse…
Do Houaiss: Ateu - adjetivo e substantivo masculino
1 que ou o que não crê em Deus ou nos deuses; ateísta
2 Uso: pejorativo.
que ou aquele que não revela respeito ou deferência para com as crenças religiosas alheias; ímpio, herege.

Sem filosofices.

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