Diário crônico XXXI – Ainda sobre as minhas fitas K7




Volto a falar sobre as minhas fitas K7, pois voltei mais uma vez a fuçar as caixas que contém meu acervo em busca de tesouros ainda não encontrados. Se há algo que me arrependo, a propósito, é de ter regravado tanta coisa por cima do que gravava do rádio. É uma história que se apagou. A justificativa, no entanto, é que não tinha dinheiro para comprar fitas virgens e tinha que aproveitar as que não ouvia mais. Preenchia com pedacinhos de papel o buraquinho na parte superior que impossibilitava o acionamento do Rec no toca-fitas e reutilizava o material.
Muita coisa se perdeu conforme meu gosto musical ia mudando e mudava muito meu gosto nessa época (me refiro, é bom lembrar, aos anos 90). Houve uma época em que escutava música pop, dance e rock que rodavam na Atlântida ou na Gazeta FM (esta última era mais sofisticada, rolava um som diferenciado, mas hoje infelizmente se rendeu ao popularesco em sua programação). Depois passei a ouvir somente Rap e apaguei boa parte das fitas gravando por cima discos que alguns amigos traziam de Porto Alegre ou então fazia cópias de fitas também oriundas de LPs vindos da capital. Depois comecei a ouvir MPB e samba e mais uma vez desgravei boa parte do meu acervo. Ainda entraria até a metade da primeira década deste século gravando e regravando, não fosse a internet entrar nas nossas vidas.
Hoje consigo pela web tudo o que ouvia naquela época, porém se perderam nessas regravações as seleções que fazia com muito cuidado, sempre prestando atenção nos nomes das músicas e bandas ditas pelo locutor para anotar nas capinhas. Às vezes até deixava gravando a fala do radialista para anotar tudo, o que seria um belo registro se depois não tivesse apagado tudo de novo. Acabei me tornando um expert nessas informações e os meus amigos volta e meia me pediam dados sobre alguma música que estava rodando na rádio.
Assim como as fitas, acabava apagando os dizeres das capinhas para substituí-los pelas novas músicas ou então usava o outro lado. Os rastros deixados se tornam palimpsestos que deixam entrever minhas mudanças, minhas idiossincrasias, minhas incoerências. Meu ser é composto por essas incoerências. Não seria quem eu sou se não fossem as minhas incoerências. As minhas fitas K7 são apenas mais um prova disso. Tudo gravado e regravado nas minhas fitas K7.

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