Trilogia de um texto só


Sou um homem das letras, das palavras, das frases, dos parágrafos, do texto. Os números não são minha praia. O máximo das aulas de matemática de que me lembro é que 2 + 2 = 5 (ou foi a literatura que me ensinou isso?).
Mas há alguns números que me perseguem e eu os persigo vez ou outra. Que o digam os pobres dos alunos, que aguentam as filosofices deste medíocre professor quando escreve a data no quadro. Um destes números é o 33, o número do suicídio. Quem leu o meu romance, Os óculos de Paula, entenderá, assim como quem acompanha há mais de 3 anos o meu blog (clique no marcador 33 ali ao lado e verá).
“O que faço com estes números?”, canta o engenheiro das palavras Humberto Gessinger. Vinha ouvindo esta música há pouco no meu golzinho usado, cuja primeira dona morava numa casa de número 333. Dois versos da canção dizem: “Aos 33 Jesus na cruz/Cabral no mar aos 33”. Gessinger é um obcecado pelo número 3. Já escrevi sobre seu livro Pra ser sincero: 123 variações sobre um mesmo tema e a relação do músico com o número. Reproduzo aqui o que escrevi na época do lançamento:
“HG nasceu em 1963. A banda teve em sua formação original 3 membros: Gessinger, Carlos Maltz e Marcelo Pitz. O primeiro show foi num dia 11/ 1 (somando, dá o número 3). Já no primeiro LP, o número aparece nos versos da música “Longe demais das capitais”, que dá nome ao disco: “O 3º sexo, a 3ª guerra, o 3º mundo”. Mais adiante, Augusto Licks entra no lugar de Pitz, completando aquela que seria a formação mais importante da banda. No segundo LP, o número está presente nos versos de “Revolta dos Dândis II”: Esquerda e direita, direitos e deveres,/ os 3 patetas, os 3 poderes”. Inspirados em outro “power trio”, os canadenses do Rush, os Engenheiros estabeleceram que depois de 3 discos, iriam gravar sempre um outro ao vivo, plano que eles cumpriram até o final dos anos 90. Também criaram várias trilogias de seus discos, uma delas é a trilogia da bandeira tricolor do Rio Grande do Sul, formada pelos álbuns “A revolta...”, “Ouça o que eu digo...” e “Várias Variáveis”, cada um com uma das 3 cores da bandeira gaúcha na capa. Quando resolveu realizar um trabalho solo, HG juntou mais dois músicos e formou o Humberto Gessinger Trio. Poderíamos citar mais músicas ainda (“3ª do plural”, “3X4”, “3 minutos”, etc.)...”
Também ando relendo A divina comédia, de Dante, cujas 3 partes contém 33 cantos (o “Inferno”, na verdade, tem 34, mas o primeiro é um prólogo). O poema é composto por estrofes de três versos, tem 3 personagens principais (o próprio Dante, o poeta latino Virgílio e Beatriz), o Inferno é descrito como um lugar que tem 9 círculos (3X3), alguns divididos em outras 3 partes. Habita o 3° círculo o Cérbero, mitológico cão com 3 cabeças. No 9º círculo, os 3 maiores traidores da História, segundo Dante, Judas Iscariotes, Brutus e Cassius (opa!), são devorados por Lúcifer. O purgatório e o paraíso aparecem também com 9 círculos cada um, perfazendo um total de 27, ou seja 3³. Há mais referências ao 3, sendo que a principal é a Santíssima Trindade da Igreja Católica.
Completei neste mês augusto 36 anos de idade (3+3+3+3+3+3+3+3+3+3+3+3). Já passei do “meio do caminho desta vida”, que é 35 anos no poema dantesco. Há 3 anos eu estava nos 33, como já disse, idade do suicídio. Não gosto de números, mas, como disse Pitágoras, eles governam o mundo. Curvo-me a eles, então.

(Coincidência, ou não, enquanto termino estas linhas, na MEC FM começam os primeiros acordes da Sinfonia nº 9, opus 33, de Glazunov. Sem mais para o momento.)

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