Ocupação ou falta de ocupação?

  
Uma das críticas feitas à educação é que ela não educa para a vida. Pois bem. Vejo na "timeline" de uma rede social uma postagem da página de um grupo de ocupação das escolas de São Paulo, com fotos mostrando alunos e professores propondo novas formas de disposição das classes na sala de aula. Na legenda, leio: "Chega de modo Patrão! Vamos construir a nossa sala de aula, vamos fazer um ambiente diferente, e agradável. Um lugar aonde possamos ter mais liberdade!".

Antes, preciso fazer algumas correções. Como a página é composta por pessoas ávidas por decidir o que é bom ou não na escola, elas deveriam ter o cuidado de não cometer erros gramaticais, salvo se a proposta é modificar também a maneira de escrever. É desnecessária a letra maiúscula que inicia a palavra “patrão”, por exemplo, pois não é um substantivo próprio. Também não deve haver vírgula depois de “diferente”, uma vez que a conjunção “e” já faz a função de separar os dois adjetivos. E o certo é “onde”, no lugar de “aonde”, pois não há verbo expressando movimento na oração. Da mesma forma, o verbo “poder” no modo subjuntivo não foi empregado adequadamente. Vejam que a liberdade é relativa. A vida e a língua portuguesa têm regras.

Voltando à postagem, lamento informar: na vida fora da sala de aula, o aluno poderá ter que seguir o tal "modo patrão", com mesas de trabalho dispostas como o patrão quer, com ambientes às vezes nada agradáveis e com a liberdade diminuída pelas regras estipuladas por ele. Se o aluno não aprende isso na escola, ele chegará a seu primeiro emprego e terá muitas surpresas. Pode ter que trabalhar num cubículo, sozinho, sem poder conversar com seus colegas. Pode ter que trabalhar em pé, atendendo clientes sem poder se sentar como deseja. Pasmem, há possibilidade de ter que trabalhar pendurado em cordas ou sobre andaimes. Por sorte, ou empenho, pode ter uma cadeira confortável. Há muitas possibilidades, mas, na maioria dos casos, o ambiente não será agradável. É a vida, meus caros! Vocês não querem aprender coisas relevantes, que vão usar no cotidiano e acham dispensável e chato aprender sobre o conhecimento construído ao longo da história da humanidade?


Peço desculpas por ser um desmancha-prazeres, mas o mundo não é como queremos que seja. Podemos mudá-lo. Não é, porém, ocupando escolas e ditando o que é certo ou errado para quem estudou mais e acumula mais experiência que algo vai mudar. Se o professor tem que "educar para a vida", essa é minha lição para o momento.

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