Segismundo e o poder

El sueño del caballero o La vida es sueño, quadro do pintor barroco Antonio de Pereda.
(Esta postagem não tem nada a ver com os acontecimentos da política de nenhum país da América do Sul, que fique claro.)
A vida é sonho é uma peça de teatro escrita pelo espanhol Pedro Calderón de la Barca em 1635. No enredo, o rei da Polônia, Basílio, mantém preso na cela de uma torre o seu filho Segismundo desde o nascimento. O único contato que o rapaz tem com o mundo exterior é o criado Clotaldo, que lhe traz tanto a comida para o corpo como a para o espírito, pois faz às vezes de professor, ensinando-lhe inclusive sobre a religião católica. Seu pai o mantinha em cativeiro para evitar as predições de um oráculo que afirmava que o príncipe, se assumisse o poder, seria um tirano cruel e também porque o seu nascimento provocou a morte da rainha.
Tentando dar uma chance para o filho e driblar o destino, o rei pede a Clotaldo que prepare uma poção para fazer o jovem dormir. Quando acorda, se vê rodeado das riquezas do reino e lhe é revelado ser o príncipe. Com o poder nas mãos, demonstra sua verdadeira natureza, sendo violento e desejando a morte daqueles que o teriam traído, inclusive o próprio Basílio. O rei, então, o leva de novo ao sono. Segismundo acorda na sua cela e lhe dizem que tudo não havia passado de um sonho. Atordoado, recita um dos grandes monólogos da história do teatro:
“- Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
(...)
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.”

Segismundo recebeu a chance de ter o poder, mas não soube aproveitar, por isso voltou à solidão de sua torre, lamentando que o sonho não fosse real. É a vida.

  

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